segunda-feira, janeiro 24, 2005

book on progress... capítulo 4

Adquirimos as credenciais, passaportes de peregrinagem e fomos em busca do albergue que nos indicaram, um privado já que todos os municipais se encontravam lotados. WEm frente à porta gostei de ler o nome: "Sous le chémin d'étoiles". Sobre o caminho de estrelas, o caminho de Compostela.
Aquele nome, relevando directamente das origens do caminho, inspirado no milagre inicial que atraiu desde tempos imemoriais peregrinos de todas as proveniências, mostrou-se inspirador. Reza a lenda que o corpo do apóstolo foi trazido da Terra Santa para ser sepultado nos territórios onde havia pregado. Trazido pelos seus discípulos foi enterrado num bosque ancestral nos confins da Península Ibérica por onde em vida andou semeando a palavra de Jesus. E aí ficou esquecido aaté ao dia em que uma chuva de estrelas guiou um pastor ao seu túmulo, indicando o lugar exacto da sua campa. Correu mundo o milagre e não tradaram as romarias para celebrar o santo Apóstolo. Daí à construção da primeira capela foi um passo, capela que foi crescendo ao ritmo da devoção e das peregrinações que desde esses dias têm acontecido. De capela a igreja, de igreja a igreja maior, e por fim a catedral. À sua volta surgiu igualmente uma cidade que se fez destino final dos passos de muita gente.
"Sous le Chémin d'étoiles" sintetiza essas origens místicas e marca com uma energia muito positiva o início do nosso caminho.
Deixámos as mochilas no albergue, uma imensa vivenda tipicamente pirenaica com os seus telhados de duas águas e vasos de flores nas janelas, e saímos para jantar. escolhemos um sítio barato, uma pizzaria, para não esbanjarmos toda a fortuna logo no primeiro dia, e depois do repasto demos uma volta pelas redondezas para nos inteirarmos das belezas locais. Entrámos na igreja, quase fortaleza, subimos a rua princuipal, espreitámos as lojas de souvenirs e depois deixámo-nos ir por uma vereda na margem do rio que nos guiou até uma ancestral ponte romana. O barulho da água e o restolhar das folhas das árvores confundiam-se numa melodia apaziguadora, bálsamo ideal para acalmar as nossas almas ansiosas de experimentar a rota e a propalada espiritualidade do caminho jacobeo.
Quando finalmente regressámos ao albergue tomei consciência de algo perfeitamente entusiasmante: já ali tinha estado, naquela mesmíssima terraapesar de em circunstâncias completamente distintas. Foi a ponte medieval, junto à igreja o que me despertou a memória, isso e o hotel em frente à pizzaria que durante todo o jantar me pareceu familiar.
Dois anos antes foi ali naquele hotel que eu e a Sónia, depois de guiarmos toda a noite atravessando Espanha, tomámos o pequeno almoço. Chegámos ali manhã cedinho, eram seis horas e caía uma fria nevrinha molha tolos. talvez tenha sido isso que nos inibiu de explorar a zona mas foi ali em Saint-Jean-Pied-de-Port que parámos para retemperar energias e forrar o estômago. Alguns hóspedes começavam a descer dos quartos e ocupavam os seus lugares em volta das mesas do restaurante, bebiam canecas cheias de café onde molhavam os croissants acabadinhos de fazer. A Sónia e eu também nos fizemos aos croissants mas preferimo-los recheados de queijo. Depois de comidos e bebidos, pagámos e dirigimo-nos para o carro, Espanha tinha ficadio para trás mas faltava percorrer meia França para chegar a Paris, meta final da jornada. Depois seriam quinze dias de férias na cidade luz, quinze maravilhosops dias para tomar o pulso à vida parisiense e para conhecer as suas pérolas mais preciosas: a Torre Eiffel, o Louvre, o Museu d'Orsay, a Notre Dame, L'Arch du Triumph, o Sacré Coeur, Montmartre e os seus artistas. o Marais e os seus palacetes...
Soube-me bem recordar aqueles gratos dias que tiveram Saint Jean um ponto do itinerário.
Ás 20:00 horas já estávamos instalados nos beliches, aconchegados nos sacos cama e dispostos a compensar as horas não dormidas a bordo do combóio.